Quem tem mais de 60 anos, sabe que antigamente o Carnaval era feito para o povo. Famílias inteiras participavam dos blocos e ranchos fantasiados. Havia coretos em praticamente todos os bairros com bandinhas tocando as famosas marchinhas de Carnaval. Dos anos 20 aos 60, foi a marchinha a grande responsável pela alegria nesta época, fosse comemorada em tradicionais e requintados bailes ou nos agitados e nada luxuosos carnavais de rua.
Todo mundo, de crianças a idosos, podia participar da folia, pois gastava-se pouco e havia muita alegria e respeito. Além do mais, não existia a violência de hoje em dia, no máximo havia alguns batedores de carteira.
Hoje, diversos fatores colaboram para que muita coisa seja diferente de anos atrás. A violência e o custo alto pela diversão são os principais aspectos.
Em geral, o povo não consegue assistir ao desfile de sua escola de samba preferida, pois não têm como pagar os preços exorbitantes cobrados pelos ingressos e além disso, também não podem desfilar, pois o Carnaval agora se resume a artistas e personalidades querendo aparecer e o verdadeiro folião fica em casa assistindo pela TV.
O ingresso mais barato, que proporciona uma visão relativamente boa do desfile e que corresponde à arquibancada Especial, custa R$ 70 e, o mais caro - o super camarote A - custa nada mais, nada menos que R$75 mil para um grupo de vinte e quatro pessoas. Preços inviáveis para a maioria!
Além do preço dos ingressos nada atrativos, alguns foliões não conseguem participar dessa festa, devido ao alto custo das fantasias, que quanto mais bonitas e luxuosas, mais caras.
É bem verdade que os blocos de rua voltaram, entretanto "brincar Carnaval" tornou-se praticamente impossível, pois estes tornaram-se verdadeiros formigueiros humanos. Cada vez mais blocos saem pelas ruas do Rio, tocando as antigas marchinhas de Carnaval. Pena que boa parte das pessoas desconhecem as letras.
Para relembrar os carnavais de outrora e reavivar a memória dos mais de 60, aí estão as letras de algumas das mais famosas marchinhas de todos os tempos:
ABRE ALAS
(Chiquinha Gonzaga, 1899)
Ó abre alas que eu quero passar
Ó abre alas que eu quero passar
Eu sou da lira não posso negar
Eu sou da lira não posso negar
Ó abre alas que eu quero passar
Ó abre alas que eu quero passar
Rosa de ouro é que vai ganhar
Rosa de ouro é que vai ganhar
TA-HÍ!
(Joubert de Carvalho, 1930)
Taí eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ai meu bem não faz assim comigo não
Você tem você tem que me dar seu coração
Meu amor não posso esquecer
Se dá alegria faz também sofrer
A minha vida foi sempre assim
Só chorando as mágoas que não têm fim
Essa história de gostar de alguém
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse Nosso Senhor
Eu não pensaria mais no amor
O TEU CABELO NÃO NEGA
(Lamartine Babo-Irmãos Valença, 1931)
O teu cabelo não nega mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega mulata
Mulata eu quero o teu amor
Tens um sabor bem do Brasil
Tens a alma cor de anil
Mulata mulatinha meu amor
Fui nomeado teu tenente interventor
Quem te inventou meu pancadão
Teve uma consagração
A lua te invejando faz careta
Porque mulata tu não és deste planeta
Quando meu bem vieste à terra
Portugal declarou guerra
A concorrência então foi colossal
Vasco da Gama contra o batalhão naval
LINDA MORENA
(Lamartine Babo, 1932)
Linda morena, morena
Morena que me faz penar
A lua cheia que tanto brilha
Não brilha tanto quanto o teu olhar
Tu és morena uma ótima pequena
Não há branco que não perca até o juízo
Onde tu passas
Sai às vezes bofetão
Toda gente faz questão
Do teu sorriso
Teu coração é uma espécie de pensão
De pensão familiar à beira-mar
Oh! Moreninha, não alugues tudo não
Deixe ao menos o porão pra eu morar
Por tua causa já se faz revolução
Vai haver transformação na cor da lua
Antigamente a mulata era a rainha
Desta vez, ó moreninha, a taça é tua
PASTORINHAS
(Noel Rosa-Braguinha, 1934)
A estrela d'alva no céu desponta
E a lua anda tonta com tamanho esplendor
E as pastorinhas pra consolo da lua
Vão cantando na rua lindos versos de amor
Linda pastora morena da cor de madalena
Tu não tens pena de mim
Que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre sempre te amar
CIDADE MARAVILHOSA
(André Filho, 1934)
Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil
Cidade maravilhosa
Coração do meu Brasil
Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil
Cidade maravilhosa
Coração do meu Brasil
Berço do samba e das lindas canções
Que vivem n'alma da gente
És o altar dos nossos corações
Que cantam alegremente
Jardim florido de amor e saudade
Terra que a todos seduz
Que Deus te cubra de felicidade
Ninho de sonho e de luz
PIERRÔ APAIXONADO
(Noel Rosa-Heitor dos Prazeres, 1935)
Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou chorando
A colombina entrou num butiquim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Dizendo: pierrô cacete
Vai tomar sorvete com o arlequim
Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o pierrô aconteceu assim
Levando esse grande chute
Foi tomar vermute com amendoim
BALANCÊ
(Braguinha-Alberto Ribeiro, 1936)
Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
Ô balancê balancê
Quando por mim você passa
Fingindo que não me vê
Meu coração quase se despedaça
No balancê balancê
Você foi minha cartilha
Você foi meu ABC
E por isso eu sou a maior maravilha
No balancê balancê
Eu levo a vida pensando
Pensando só em você
E o tempo passa e eu vou me acabando
No balancê balancê
MAMÃE EU QUERO
(Jararaca-Vicente Paiva, 1936)
Mamãe eu quero, mamãe eu quero
Mamãe eu quero mamar
Dá a chupeta, dá a chupeta
Dá a chupeta pro bebe não chorar
Dorme filhinho do meu coração
Pega a mamadeira e vem entrá pro meu cordão
Eu tenho uma irmã que se chama Ana
De piscar o olho já ficou sem a pestana
Olho as pequenas mas daquele jeito
Tenho muita pena não ser criança de peito
Eu tenho uma irmã que é fenomenal
Ela é da bossa e o marido é um boçal
TOURADAS EM MADRI
(Braguinha-Alberto Ribeiro, 1937)
Eu fui às touradas em Madri
Para tim bum, bum, bum
Para tim bum, bum, bum
E quase não volto mais aqui
Pra ver Peri beijar Ceci
Para tim bum, bum, bum
Para tim bum, bum, bum
Eu conheci uma espanhola natural da Catalunha
Queria que eu tocasse castanhola e pegasse touro à unha
Caramba caracoles sou do samba não me amoles
Pro Brasil eu vou fugir
Que isso é conversa mole para boi dormir
Para tim bum, bum, bum
Para tim bum, bum, bum
A JARDINEIRA
(Benedito Lacerda-Humberto Porto, 1938)
Ó jardineira porque estás tão triste
Mas o que foi que te aconteceu
Foi a camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu
Vem jardineira vem meu amor
Não fiques triste que este mundo é todo seu
Tu és muito mais bonita
Que a camélia que morreu
ALLAH-LÁ-Ô
(Haroldo Lobo-Nássara, 1940)
Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô
Mas que calor, ô ô ô ô ô
Atravessamos o deserto do Saara
O sol estava quente, queimou a nossa cara
Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô
Mas que calor, ô ô ô ô ô
Viemos do Egito
E muitas vezes
Nós tivemos que rezar
Allah! allah! allah, meu bom allah!
Mande água pra ioiô
Mande água pra iaiá
Allah! meu bom allah
AURORA
(Mário Lago-Roberto Roberti, 1940)
Se você fosse sincera
Ô ô ô ô Aurora
Veja só que bom que era
Ô ô ô ô Aurora
Um lindo apartamento
Com porteiro e elevador
E ar refrigerado
Para os dias de calor
Madame antes do nome
Você teria agora
Ô ô ô ô Aurora
PIRATA DA PERNA DE PAU
(Braguinha, 1946)
Eu sou o pirata da perna de pau
Do olho de vidro da cara de mau
Minha galera
Dos verdes mares não teme o tufão
Minha galera
Só tem garotas na guarnição
Por isso se outro pirata
Tenta a abordagem eu pego o facão
E grito do alto da popa:
Opa! homem não!
CHIQUITA BACANA
(Braguinha-Alberto Ribeiro, 1949)
Chiquita bacana lá da Martinica
Se veste com uma casa de banana nanica
Não usa vestido, oi! não usa calção
Inverno pra ela é pleno verão
Existencialista com toda razão
Só faz o que manda o seu coração, ôi!
SASSARICANDO
(Luiz Antônio, Zé Mário e Oldemar Magalhães, 1951)
Sassassaricando
Todo mundo leva a vida no arame
Sassassaricando
A viúva o brotinho e a madame
O velho na porta da Colombo
É um assombro
Sassaricando
Quem não tem seu sassarico
Sassarica mesmo só
Porque sem sassaricar
Essa vida é um nó
CACHAÇA
(Mirabeau Pinheiro-Lúcio de Castro-Heber Lobato, 1953)
Você pensa que cachaça é água
Cachaça não é água não
Cachaça vem do alambique
E água vem do ribeirão
Pode me faltar tudo na vida
Arroz feijão e pão
Pode me faltar manteiga
E tudo mais não faz falta não
Pode me faltar o amor
Há, há, há, há!
Isto até acho graça
Só não quero que me falte
A danada da cachaça
SACA-ROLHA
(Zé da Zilda-Zilda do Zé-Waldir Machado, 1953)
As águas vão rolar
Garrafa cheia eu não quero ver sobrar
Eu passo mão na saca saca saca rolha
E bebo até me afogar
Deixa as águas rolar
Se a polícia por isso me prender
Mas na última hora me soltar
Eu pego o saca saca saca rolha
Ninguém me agarra ninguém me agarra
VAI COM JEITO
(Braguinha, 1956)
Vai com jeito vai
Se não um dia a casa cai (menina)
Se alguém te convidar
Pra tomar banho em Paquetá
Pra piquenique na Barra da Tijuca
Ou pra fazer um programa no Joá
Menina...
TURMA DO FUNIL
(Mirabeau -Milton de Oliveira- Urgel de Castro, 1956)
Chegou a turma do funil
Todo mundo bebe
Mas ninguém dorme no ponto
Aí, aí, ninguém dorme no ponto
Nós é que bebemos e eles que ficam tontos
Eu bebo, sem compromisso,com meu dinheiro, ninguém tem nada com isso
Aonde houver garrafa, aonde houver barril
Presente está a turma do funil
ME DÁ UM DINHEIRO AÍ!
(Ivan Ferreira-Homero Ferreira-Glauco Ferreira, 1959)
Ei, você aí!
Me dá um dinheiro aí!
Me dá um dinheiro aí!
Não vai dar? Não vai dar não?
Você vai ver a grande confusão
Que eu vou fazer bebendo até cair
Me dá me dá me dá, ô!
Me dá um dinheiro aí!
ÍNDIO QUER APITO
(Haroldo Lobo-Milton de Oliveira, 1960)
Ê ê ê ê ê índio quer apito
Se não der pau vai comer
Lá no bananal mulher de branco
Levou pra pra índio colar esquisito
Índio viu presente mais bonito
Eu não quer colar
Índio quer apito
MARCHA DO CORDÃO DO BOLA PRETA
(Nelson Barbosa - Vicente Paiva, 1962)
Quem não chora não mama
Segura meu bem a chupeta
Lugar quente é na cama
Ou então no Bola Preta
Vem pro Bola meu bem
Com alegria infernal
Todos são de coração
Todos são de coração
Foliões do carnaval
(Sensacional!)
CABELEIRA DO ZEZÉ
(João Roberto Kelly-Roberto Faissal, 1963)
Olha a cabeleira do Zezé
Será que ele é
Será que ele é
Será que ele é bossa nova
Será que ele é Maomé
Parece que é transviado
Mas isso eu não sei se ele é
Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!
MULATA IÊ IÊ IÊ
(João Roberto Kelly, 1964)
Mulata bossa nova
Caiu no hully gully
E só dá ela
Ê ê ê ê ê ê ê ê
Na passarela
A boneca está
Cheia de fiufiu
Esnobando as louras
E as morenas do Brasil
COLOMBINA IÊ IÊ IÊ
(João Roberto Kelly/David Nasser-1966)
Colombina, onde vai você
Eu vou dançar o iê iê iê
A gangue só me chama de palhaço (é a mãe!)
Palhaço (é a mãe!) Palhaço (é a mãe!)
E a minha colombina que é você
Só quer saber de iê iê iê
MÁSCARA NEGRA
(Zé Keti-Pereira Mattos, 1966)
Tanto riso, oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando
Pelo amor da colombina
No meio da multidão
Foi bom te ver outra vez
Está fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou
Que te beijou meu amor
A mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval
BANDEIRA BRANCA
(Max Nunes-Laércio Alves, 1969)
Bandeira branca amor
Não posso mais
Pela saudade que me invade
Eu peço paz
Saudade mal de amor de amor
Saudade dor que dói demais
Vem meu amor
Bandeira branca eu peço paz
MARCHA DO REMADOR
(Antônio Almeida - 1969)
Se a canoa não virar olê olê olá
Eu chego lá
Rema rema rema remador
Quero ver depressa o meu amor
Se eu chegar depois do sol raiar
Ela bota outro em meu lugar
E para ouvir agumas gravações originais, basta clicar no nome da música abaixo:
É, já não se fazem mais Carnavais como antigamente!!!